quarta-feira, 2 de maio de 2012

Seu filho é como a chuva: Um Guia para Maternar/ Paternar Pacificamente


de Naomi Aldort

Quando o Monte St. Helens  começou recentemente com uns estrondos, um dos meus filhos perguntou: “Será que as pessoas que vivem perto ficam bravas quando o vulcão entra em erupção?” “Você ficaria bravo com a chuva?” Eu perguntei. Enquanto ele estava ponderando a minha pergunta, o seu irmão disse: “Ficar bravo com chuva ou com uma montanha em erupção é tão louco como ficar bravo com outra pessoa.” De fato, vivemos em paz com a natureza, porque percebemos que ela não muda para atender as nossas idéias. No entanto, muitas vezes esperamos que os seres humanos mudem de acordo com nossos pensamentos e que as crianças desenvolvam de acordo com nosso plano. Tais expectativas nos deixam frustrados e impotentes. Como eu sei que está chovendo? Eu observo. Eu não tento mudar a chuva, eu reajo usando um guarda-chuva. Da mesma forma, como eu sei como o meu filho deve ser? Eu observo e respondo sem tentar manipular. “Mas”, protesta um pai atencioso, “Como podemos responder gentilmente quando uma criança está batendo, agarrando ou fazendo uma bagunça?”

No curso normal dos acontecimentos, a maioria de nós estamos procurando uma maneira de manipular e parar o que nós definimos como “errado”. No entanto, se pararmos para questionar as nossas próprias suposições, descobrimos que a criança tem uma razão muito válida para suas ações ou palavras, ou que nada está realmente errado. Quando percebemos que a nossa percepção não é verdade, podemos notar a intenção da criança e oferecer ajuda (se necessário) ao invés de julgamento.

A razão para o comportamento de uma criança muitas vezes é emocional, e nem sempre, obviamente, está relacionada como que ela faz ou diz. Parar a sua expressão não pára a causa. Eu posso impedí-la de gritar ou bater, mas a razão para a sua angústia ainda está lá e vai entrar em erupção novamente. Na verdade, o meu impedí-la irá induzir um sentimento de separação e medo, agravando a sua ansiedade e conduzindo-a a mais agressão. Em contraste, uma vez que eu entenda a criança, eu posso responder amavelmente, independente do que ela possa ter ou querer no momento.

Em meu livro, Criando Nossos Filhos, Criando Nós Mesmos, eu ofereço uma fórmula de comunicação, SALVE, para ajudar os pais a encontrar o caminho de volta para sua sabedoria e amor:

S – Silêncio, separe-se da situação. A auto-investigação: Ganhando liberdade da tirania dos pensamentos não examinados

A – Atenção na criança

L – Listen- Ouça

V – Valide

E – Empoderamento

O seguinte é um exemplo do livro. Ele mostra um pai que foi capaz de evitar o seu aborrecimento inicial. Sua resposta teria sido normalmente a raiva, mas ele usou a fórmula SALVE e se manteve conectado e carinhoso.

Enquanto Adi trabalhava no jardim, sua filha de 4 anos, Ruthi, entrou e serviu-se de um copo de leite. Parte do leite foi derramado sobre a mesa e no chão da cozinha. Quando Adi entrou na casa e viu o leite derramado, estava pronto para explodir com, “Por que você não me pede para ajudá-la? Você sabe que não pode fazer isso sozinha “. Ao contrário, ele respirou fundo. Notou estas palavras passando silenciosamente em sua cabeça (S de SALVE) e teve tempo para perceber que elas não eram verdadeiras ou úteis para ele. Ele então voltou sua atenção (A) para Ruthi. Ele notou que ela tinha tentado não interromper seu trabalho e por isso serviu-se  de um copo de leite sem a sua ajuda. Ele se aproximou e disse alegremente: “Vejoque você se serviu de leite sozinha.” Ruthi respondeu: “Sim, e um tanto derramou.” Ela olhou para seu pai com um coração questionador enquanto ele a ouvia (L) com o coração aberto. “Isso aconteceu comigo outro dia no vovô”, disse ele (V para Validando). “Eu derramei suco. Senti-me desajeitado, mas o vô sorriu e me deu uma toalha. É fácil de limpar. ” Ruthi correu da cozinha e trouxe uma toalha (E, ela se sente Empoderada), que ela entregou a seu pai. Não era o tipo de toalha que Adi teria usado para limpar o chão, mas ele aceitou a toalha com gratidão.


O S do SALVE é a parte mais poderosa (e às vezes mais desafiadora), porque ele lhe pede para desviar-se de um hábito utilizado ao longo da vida de obediência a seus pensamentos. Neste artigo vou apenas concentrar-me no S: A auto-investigação. O resto se tornará claro uma vez que você questione seus próprios pensamentos. Nós nos enganamos em acreditar que a nossa chateação é causada pela criança. Será que é? Observe como você se sente quando você acredita em seus próprios pensamentos: irritado; chateado; quer xingar, ameaçar, punir ou se retirar. Você ficaria chateado se você não tivesse esse pensamento que vai contra a criança? Sem esse pensamento, a chateação é substituída pela paz.

Você pode pensar: “Ela deve me ouvir.” Sério? Por quê? Quem dita isso? Como você pode saber isso? Observe: Ela está ouvindo? Se ela não está, não seria mais útil para vc descobrir o porquê, para que você possa compreendê-la e ficar conectado? Observe-a como você observaria a chuva: ela não está ouvindo. Deve haver uma boa razão para que ela não esteja sendo capaz de ouvir. Se, em vez disso, você a ouvisse (compreeender seu comportamento), você descobriria porquê ela não pode ouví-lo. (Algumas possibilidades: Ela é muito jovem, ela necessita de comunicação não-verbal, ela está com medo, confusa, insegura, desconectada, ela precisa de algo que você não vê, etc).
Nosso objetivo não é parar a expressão da criança (a menos que seja perigoso), mas é entender porque ela deve estar fazendo o que está fazendo, para que possamos cuidar dela. Muitas vezes descobrimos que vemos um problema onde não existe nenhum. Mesmo que a ação tenha que ser interrompida, uma vez que entendemos a necessidade ou a causa, podemos nos sentir mais calmos e reagir amavelmente. Convido-os a assumir que tudo o que a criança está fazendo é perfeitamente certo. Essa percepção irá acordá-lo de seus pensamentos confusos para que possam responder ao invés de manipular.


O Poder do “Sim”
Uma maneira rápida de trazer clareza para si mesmo é, de dizer “sim” quando você quer dizer “não” (quando não há perigo). Uma vez que estiver habituado com sua resposta positiva, procure uma maneira de encaixar o “sim.” Seu filho quer fazer uma pintura na parede. “Sim, eu posso ver como você gostaria de cobrir a parede com as cores”, e, em seguida, vc pode cobrir a parede com papel ou oferecer um cavalete. Ou, “Sim, eu vejo que você gosta de fazer sua irmã gritar”, e se a irmã não estiver se divertindo (ela pode estar), você pode oferecer algum outro jogo que dá à criança uma sensação de poder. O “sim” é uma maneira de transformar sua reação adversa em cooperação com o seu filho. “Eu vejo o que ela precisa. Como posso ajudá-la? “Isso vai abrir sua mente para soluções pacíficas. Se o meu filho precisa irritar sua irmã, eu procuro a razão, ouço e ofereço soluções de validação e carinho.

Uma mãe me contou como ela usou essa abordagem quando seu filho de 4 anos de idade, estava sentado no parapeito da janela de seu apartamento no quarto andar. Ela estava pronta para gritar “não” e repreender “quantas vezes eu já te disse …?” Em vez disso, ela disse,” Sim “e prontamente sabia como continuar validando a sua intenção:” Eu vejo o quanto você gosta de olhar para baixo da janela.
Aqui está um banquinho que você pode usar com segurança. “Trouxe-o para perto da janela e o mudou para lá. O menino disse: “Mas mamãe, eu estava seguro na janela também.” “Eu sei”, sua mãe respondeu: “mas eu estava com medo.” Ela falou honestamente sobre suas necessidades e, portanto, o menino estavafeliz em usar o banquinho. Ela me disse que ele tem continuado a usá-lo desde então.

Não é Necessário Corrigir a Criança

Podemos responder à criança, ao invés de tentar mudá-la. No outro dia eu dei a um dos meus filhos um milk shake e ele girou o braço quando eu entreguei a ele. A bebida espessa se espatifou no chão, no balcão e nas nossas roupas. “Uau, isso foi engraçado”, disse seu irmão, e nós rimos. O pensamento: “Não deveria ter derramado” teria sido um pensamento doloroso. Esse pensamento não passou por nenhuma de nossas cabeças, por isso ficamos alegres e conectados. Próxima coisa a fazer foi limpar o chão e as nossas roupas. Eu gosto de saber o que fazer em seguida. Faz minha vida simples. Podemos limpar o chão com raiva ou na felicidade, é o mesmo caminho. Será que ele ou eu teremos menos cuidado da próxima vez porque eu não estava com raiva? Você acredita neste pensamento? Os seres humanos já pararam de derramar coisas na história? Nos perturbarmos nos faz mais capazes? A boa notícia é, você não tem que obedecer seus pensamentos dolorosos. Quando os pensamentos lhe trazem alegria e conexão amorosa, siga com eles. Se você observar estresse e desconexão, verifique a validade de seus pensamentos. Não acredite em tudo que sua mente diz. Se dói, não é verdade.

Os pais muitas vezes perguntam: “E se meu filho está realmente se comportando mal?” Eu não sei o que “mau comportamento” significa, para mim, porque uma criança está sempre fazendo o melhor que ela pode para satisfazer sua própria necessidade. Quando você explorar seu pensamento sobre o que você chama de “mal comportamento”, você pode se surpreender ao descobrir que não tem nada a ver com o seu filho: Ele tem um motivo válido e bom para agir ou falar do jeito que ele faz. Uma vez que você compreenda a razão, a sua confusão vai acabar e você será capaz ou de eliminar a causa da dificuldade ou responder respeitosa e pacificamente.

A idéia de que a aprendizagem tem que ser forçada não foi questionada. No entanto, na realidade, tudo flui no tempo perfeito. Sem aulas de respiração avançadas, o bebê nasce e respira. Sem manuais de andar, ele anda, e sem aulas de falar, ele fala. Esses milagres são as lições da vida e da maneira como as crianças crescem todo o caminho. Só precisamos dar água a flor, não forçar suas pétalas a abrirem. Cada criança cresce em sua forma única. Como eu sei como é isto? Eu observo. Eu respondo ao invés de tentar moldar. Observe como você responde à chuva, e aprenda tendo calma com você. Maravilhe-se com o milagre que seu filho é, e responda como se fosse a chuva. Passivamente? Não. Com clareza e amor? Sim.
Tradução: Cecilia Kotzias (ceciliakotzias@gmail.com), para www.vivendo-e-aprendendo.com

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